segunda-feira, agosto 31, 2020

Onça na espreita

 - Há um morto nesta sala.
- Onde está que não vejo?
- Ali no canto.
- Não há não.
- Há sim.
- Como você está vendo?
- Vejo com o pensamento.
- Não sei ver assim.
- Vou mostrar apontando o dedo.
- Não há nada aí.
- Faça de conta que há.
- Assim não tem graça. Posso fazer de conta de muita coisa.
- Mas não vê agora?
- Estou vendo! Não me parece morto.
- Finge de morto.
- Por que fingir?
- Para não ser atacado.
- Atacado por quem?
- Por aquela onça que está em cima da árvore.
- Onça? Mas não estava ali.
- Agora está.
- Ora, com o pensamento você vê o que quiser.
- Isto é ser dono da própria visão.
- Não é ilusão?
- É comandar a realidade.
- E o que é realidade?
- É uma ilusão.
- Ele fingirá de morto até quando?
- Até morrer realmente.