DA ÁRVORE PARA O HOMEM
Eu existi para você todos esses anos
e você não se contentou
em me consumir devagar.
Hoje, você quer minha destruição,
inteira, completa;
não mais na lenta monotonia de seu machado,
mas com os dentes elétricos de sua serra,
como se fosse inimiga de suas ambições.
Você ignora que muito me custou
atingir o pleno desenvolvimento
e que não me reerguerei facilmente.
Será tarde quando desejar, arrependido,
o afago de minhas respirações,
o perfume de minhas flores,
o sabor de meus frutos,
o frescor de minha sombra.
Para a morte que seu ataque espalha
os séculos responderão
com a mesma sequidão ardente
do deserto de sua alma.
E, inda que eu espere com calma,
seremos dois que não verão mais a lua,
pois nada mais o fará entender
que minha morte, inevitavelmente,
será seguida da sua.
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