domingo, setembro 30, 2012

DA ÁRVORE PARA O HOMEM

Eu existi para você todos esses anos e você não se contentou em me consumir devagar. Hoje, você quer minha destruição, inteira, completa; não mais na lenta monotonia de seu machado, mas com os dentes elétricos de sua serra, como se fosse inimiga de suas ambições. Você ignora que muito me custou atingir o pleno desenvolvimento e que não me reerguerei facilmente. Será tarde quando desejar, arrependido, o afago de minhas respirações, o perfume de minhas flores, o sabor de meus frutos, o frescor de minha sombra. Para a morte que seu ataque espalha os séculos responderão com a mesma sequidão ardente do deserto de sua alma. E, inda que eu espere com calma, seremos dois que não verão mais a lua, pois nada mais o fará entender que minha morte, inevitavelmente, será seguida da sua.