domingo, junho 12, 2011

Caça à mariposa

É noite. Minha gata se levanta da soneca da tarde com disposição para exercícios de caça. Morando num apartamento, suas presas são basicamente os insetos. Ela sabe que é horário de mariposa entrar pelo vidro da área de serviço atraída pela lâmpada acesa da cozinha. E, de fato, chega uma delas que voa até o teto. É o único inseto da noite e imediatamente a gata fixa o olhar em sua direção. Sobe no armário e fica na expectativa de apanhá-la. Desce à mesa e depois ao chão. Num salto, está sobre a pia e de lá alcança a geladeira, seguindo o vôo quase invisível da mariposa. Às vezes, tem sorte, como hoje, e leva sua presa até onde estão os amos anunciando a proeza com seu miado específico para tais ocasiões. Com a habilidade de transportar o inseto entre os lábios sem feri-lo, o solta sobre o tapete da sala de TV. Vou conferir de perto a situação. A mariposa está imóvel, se fazendo espertamente de morta. O que indica que, por intuição, sabe sobre a morte ou sua ocorrência. E a gata observa, pacientemente, aguardando algum movimento, algum sinal de vida, pois não se interessa por mortos. Cutuco a mariposa com o indicador e, como por um encanto, ela “ressuscita” e adeja até a sala de estar. Assim que ela alça vôo a gata tenta alcançá-la com tanta avidez que me fere o dedo com sua garra afiada. Em seguida, parte ao encalço da mariposa que já se encontra pousada em alguma folha da Leia rubra que a ama mantém com esmero na sala de estar. Na penumbra a gata tateia e agita os galhos da planta. De repente, surge novamente na sala de TV transportando entre os lábios sua presa que deixa, mais uma vez, sobre o tapete.
Estendo o indicador que a mariposa aceita sem receio e a trago até a altura de meu peito. E a gata fica a procurar por ela durante vários minutos farejando o centro do tapete e olhando o ar, inconformada com seu sumiço imprevisto. Isto porque se exercita caçando várias vezes a mesma presa que não quer que morra, nem que fuja, ou desapareça. É assim que prolonga a caçada, mesmo que seja a uma simples e solitária mariposa que voa apenas em busca da luz.