sábado, fevereiro 20, 2010

CARTA AO PAI

Salvador, 15 de julho de 1984
Papai:
Chegamos a Salvador na noite de quinta feira 12 de julho. Viemos por terra até a ilha de Itaparica e de lá em Ferry Boat alcançamos a capital. Estamos hospedados na casa do pai de T. aonde mora também uma filha sua. Ele completou noventa e dois anos na sexta feira 13 de julho. Às vezes manifesta os devaneios da senilidade. É viúvo, mas acredita que sua mulher ainda esteja apenas viajando. Por isso reclamou da ausência dela no dia de seu aniversário. É agrônomo aposentado. Tiveram oito filhos, um deles foi meu professor de hematologia na Faculdade. Mora num casarão antigo sem frente com janelões pintados de azul. Fica no Barbalho e tem dois números. Geralmente as casas em Salvador têm dois números.
No sábado pela manhã fomos à casa de H. que fica no bairro da Graça, pertinho da Barra. Barra é um dos bairros mais badalados de Salvador e já era nosso conhecido, pois lá ficamos em março hospedados no Hotel Enseada Praia da Barra.
H. nos recebeu afetuosamente. Fisicamente me lembrou o Dalmo. Sua sala de visitas está repleta de quadros a óleo. Observamos dois Di Cavalcanti, um Jânio Quadros, três pintados pelo próprio Dalmo e outros de pintores conhecidos da região. Contou-nos ela que seu esposo M. há anos comprou quarenta e nove telas da autoria de José Pancetti. Pagou por eles uma módica quantia. Os quadros valorizaram tremendamente. M. deu quatro telas de Pancetti para sua filha que os vendeu e com o dinheiro da venda comprou um apartamento e uma clínica radiológica para seu marido. À medida que M.vendia os quadros ia comprando imóveis. Foi assim que comprou fazenda e gado. Recentemente, Juca Chaves vendeu um Pancetti por oitenta milhões de cruzeiros. É pintura bonita da lagoa do Abaeté. Logo indaguei sobre o romance do Dalmo. E M. trouxe do andar de cima dezenas de escritos. Eles têm lá muito material dalmiano. Há um livro com vários pensamentos e prefácio de Sérgio Milliet. Li o livro infantil “O passarinho e a noite”. É história escrita durante a época da repressão de 68. Conta que um passarinho encontrou um menino cujo pai tem o costume de aprisionar passarinhos em gaiolas. O passarinho acorda o pai do menino e é imediatamente agarrado por ele. Em seguida, o passarinho começa a crescer porque cresce a árvore dentro dele. Todo passarinho tem dentro de si uma árvore. Logo todos os passarinhos das gaiolas também crescem e se tornam livres pois as gaiolas se arrebentam.
Eis o significado da história: viver sob exagerada repressão faz com que haja uma
expansão do que cada um tem dentro de si. A obra é ilustrada com desenhos executados pelo próprio Dalmo. Também vi outro livrinho de poemas acompanhado de esboços.
O romance que ele escreveu tem como título: “Do dia incerto de Ardruisio Pimenta que envolveu muita gente”. São 198 páginas. Este romance já foi publicado e Dalmo incendiou todos os exemplares, apenas restando um. Há alguns álbuns de fotografia e Dalmo surge ao lado de Pelé numa das fotos. Há ainda um precioso caderninho com esboços feitos a lápis por Philibert Florence.
H. tem cinco filhos, dois homens e duas mulheres.
Hoje estivemos na praia de Piatã. Estava apinhada de gente com ciganos lendo a sorte dos turistas e jegues carregando jacás com coco verde. A água é transparente como uma piscina. Um deleite de praia. Uma areia boa para modelar. Fiquei modelando alguns rostos e as crianças se aproximavam curiosas atraídas pelas expressões
faciais que consegui colocar na areia.
Em 16 de julho
Estamos em Itabuna. Saímos às 6h00 de Salvador usando o Ferry Boat até Itaparica. Chegamos às 11h30 para o almoço. Sol e calor gostoso.
H. me disse que precisou consolar a M. quando faleceu o vovô.
Salvador é cidade que me agrada. Voltari em setembro para o Congresso de Homeopatia
que será no Hotel Meridien situado numa ponta de terra que avança para o mar. Ficaremos hospedados na mesma casa.
O ar da Bahia me deixa mais à vontade para viver. Mais solto. Já foi dito que a Bahia é terra da felicidade.

Saudoso abraço.

Não me culpem por este que pareço,
Guardei-me para um dia que não chega...
Com este que não sou que me entristeço
É este que não sou que me renega.


Dalmo Florence

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Aguém está me seguindo.

terça-feira, fevereiro 16, 2010

O que eu tenho na cabeça?