quinta-feira, novembro 09, 2006

Caçada Noturna


Meus amos dizem que são vegetarianos e acho que, por isso, não sabem caçar nenhuma barata. Quando eles estiveram comigo no sítio lhes dei uma aula, com três demonstrações práticas, de como se caça um camundongo. Espero que tenham aprendido, porque não mais pretendo repetir a lição.
Na minha residência na cidade, durante a última madrugada, estava desperta e preparada para a caçada. Dentro de um apartamento é também possível conseguir alguma presa, mesmo que não haja nada, aparentemente. Então encontrei o rolo de papelão no banheiro e o joguei ao chão e o fiz rodar pelo aposento vazio. Enquanto corria atrás dele, iniciava-se uma grande caçada. Ele se transformara num enorme roedor que vivia escondido atrás da privada e ninguém sabia. Uma ratazana dos pântanos, sem dúvida, que insistia em escapar de minhas garras. E fui pra lá e pra cá com essa presa inquieta. Estava ficando muito divertido até que meu amo se levantou de seu sono e com uma lanterna veio até o quarto para ver o que estava acontecendo. Não dava tempo de avisá-lo que eu perseguia um animal perigoso, mas quase gritei: cuidado! Ele, antes de perceber o risco que corria, acabou com minha brincadeira tirando o roedor, digo, o rolo, de meu alcance. Quando amanheceu o dia, comentou com minha ama que o vizinho do andar debaixo poderia ter ouvido a algazarra. Eu já ando silenciosamente, mas se deixassem crescer o mato neste chão, nenhuma caçada seria barulhenta.
Toda madrugada é assim. Enquanto eles dormem, eu saio da cama silenciosamente para fazer minha ronda. É um impulso irresistível que tenho. Mas, como dentro de um apartamento é aquela mesmice de sempre, é preciso ser criativa. Eu não sou do tipo que fica curtindo tédio. Se nada há realmente para se fazer procuro o meu canto e vou dormir e sonhar. Dormir, no meu caso, não significa fazer nada, como o humanóide quer interpretar. Mesmo que durma dezesseis horas por dia, como está escrito. Dormir preserva minha saúde e me torna mais resistente. E os sonhos preservam minha memória não me deixando esquecer dos tipos de miado que emito e de como devo proceder durante as mais diversas caçadas. Porque é isso mesmo, sonho com miados e exercícios de caça. E para a arte de caça também é preciso ter talento.

Do diário da gatinha